Mulher tocantinense traduz missão de resgate e preservação cultural

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Adetuc ressalta o papel feminino na diversidade cultural do Estado.

As mulheres tocantinenses – por nascimento ou adoção – têm assumido o protagonismo no saber, no fazer, e na luta pela preservação cultural. São cantoras, escritoras, artesãs, artistas plásticas, atrizes, diretoras, bailarinas, instrumentistas, produtoras, defensoras de um protagonismo social ainda pouco reconhecido.

A cultura tocantinense carrega consigo uma grande representatividade feminina. Se ainda há alguma dúvida sobre a presença da mulher na construção histórica, social e cultural da região nos últimos três séculos, basta citar alguns ícones, como Dona Miúda (Guilhermina Ribeiro da Silva), precursora do artesanato em capim dourado do Jalapão, sucedida por sua filha, a Doutora (Noêmia Ribeiro da Silva), e Tia Naninha (Ana Benedita de Cerqueira e Silva), de Natividade, que levou o sabor do biscoito Amor Perfeito para o mundo.

“Em todas as áreas, em todos os segmentos, temos a presença feminina muito forte e determinante”, enfatiza a diretora, produtora e roteirista Eva Pereira, que no momento trabalha em um novo projeto, a série “Elas por elas e por nós”, que irá destacar a força da mulher tocantinense por meio de dez personagens.

“A primeira entrevistada foi a artesã Teresa Alves, de Taquaruçu, que trabalha com artesanato em babaçu. É uma mulher que se reinventou após a separação”, conta a cineasta, ao enaltecer a sensibilidade, o olhar feminino aguçado, a capacidade de fazer acontecer. “Gosto de destacar a mulher, sempre me surpreendo”, completa.

Garra e leveza

“Jovem, mulher, negra e bailarina clássica. Assim cheguei em Tocantínia, no Tocantins, a dois passos do paraíso, Miracema do Norte, em 1990”. A trajetória da bailarina e gestora cultural Meire Maria Monteiro está entrelaçada à construção da Capital e à formação do Estado caçula da Federação. “Dancei no primeiro Natal de Palmas, dançava na hora do almoço em cima das mesas dos refeitórios ou à beira das valas escavadas do Palácio Araguaia. Dançava no lançamento das pedras fundamentais de cada edificação construída (inclusive do Theatro Fernanda Montenegro), na extinta Comunicatins, e ali, no  cimento queimado, tábuas de madeirite, pedras e muita poeira aprendi a dançar com a garra e leveza de minha alma, com os pés sangrando, sem dor, pois era assim que aprendi a ser feliz”, relata, com emoção.

Meire Maria conta que, mesmo sendo chamada para voltar ao eixo Rio/São Paulo para exercer sua profissão de forma plena, resolveu ficar, encantada com a cultura tocantinense, com a riqueza dos saberes e fazeres, os ritmos peculiares e os sabores magníficos da região. “E nunca me arrependi! Faria tudo de novo, pois vivi um tempo de desdobramento, aventura, conhecimento e encantamento. Minhas criações como coreógrafa foram expandidas ao limite de tudo o que eu já havia conhecido, a técnica se tornou somente uma crença, e, minha alma artística se libertou e foi forjada nas pedras cangas e nas águas dos rios Araguaia e Tocantins”, continua.

“Aprendi demais com as Donas Miúdas, Raimundas, Naninhas, Lúcias Quilombos e tantas outras mulheres que aqui fizeram a sua arte, o seu viver, crescer e florescer. Só gratidão e admiração por todas consigo sentir”, completa Meire Maria.

Missão

Os 11 anos dedicados aos estudos, em Goiânia e Rio de Janeiro, não foram suficientes para afastar a economista, com especialização em cooperativismo, fotógrafa amadora, microempresária, pesquisadora e ativista da cultura nativitana/tocantinense, Simone Camelo Araújo, de sua missão. “A participação na cultura tradicional é muito forte, está comigo desde muito pequena”, relata, ao citar o interesse em conhecer a história de sua própria família, que despertou de expansão para sua cidade e seu Estado.

“Isso não para, é sempre crescente, sempre pesquisando, conhecendo coisas novas, tudo está em constante movimento, então tudo isso é um grande aprendizado feito com muito carinho, muito amor, um trabalho que não traz prazer, apenas, mas também traz melhoria na qualidade de vida ao meu meio”, conta Simone, que em 1992 liderou a fundação da Associação Comunitária Cultural de Natividade (Asccuna) onde idealizou e implantou vários projetos de resgate, preservação, divulgação e incentivo do patrimônio cultural.

Simone de Natividade, como hoje é mais conhecida, ressalta que a presença feminina é parte fundamental da construção histórica regional. “Em todas as áreas as mulheres são patrimônio vivo, principalmente na área cultural, em especial aquelas que entregam suas vidas à continuidade, ao repasse de saberes, desses bens culturais que traduzem a riqueza do nosso Estado”, diz, ressaltando mulheres nativitanas que desempenham importante papel nas suas áreas, como Tia Naninha, com sua culinária tradicional, Dona Romana, com seu trabalho na área mística, Felisberta Pereira, mestre na suça e referência na fitoterapia, Edilma Pereira Barbosa na ourivesaria, e sua mãe, Berlamina Araújo, conhecida como Professora Belinha, no trabalho com bordados. “Rendo minha homenagem a todas as mulheres que trabalham com a cultura”, completa.

“A data provoca repercussões sobre o papel feminino na sociedade e por isso é fundamental a gente destacar a presença da mulher enquanto matriz criadora das manifestações, dos bens culturais, enquanto multiplicadora de conhecimentos, portadora de saberes. Por tudo isso, é fundamental que ela assuma esse papel e trabalhe pela manutenção da cultura, principalmente da cultura tradicional”, conclui Simone de Natividade.

Mensagem

Para o presidente da Agência do Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa do Tocantins (Adetuc), Jairo Mariano, o papel da mulher tocantinense é primordial no desenvolvimento regional, em todos os segmentos. “As mulheres são presença marcante em nossa cultura, assim como na gestão da Adetuc”, ressalta.

Seleucia Fontes/Governo do Tocantins